WorldPackers - Bahia | 2020
- Maria Montoro
- 30 de mar. de 2020
- 8 min de leitura
Atualizado: 19 de jan. de 2021
Minha primeira experiência com o Worldpackers.
No começo do ano tive uma conexão muito forte com Itacaré, na Bahia. Fui do meu terceiro Universo Paralello pra Barra Grande e depois fui pra Itacaré. Sem expectativas e fui surpreendida. Logo que cheguei me falaram “cuidado com o que você deseja, que Itacaré te ouve e faz acontecer” e foi assim que voltei pra lá dois meses depois, junto com o worldpackers...

Sempre procurei muitos voluntariados pra fazer, ano passado tive uma experiência linda na Amazônia (tem nos meus destaques do instagram ) e esse ano estava procurando algo de troca. Sou membro do Worldpackers desde 2018, quando morava na Austrália, mas nunca consegui conciliar minha profissional com as datas pra eu me jogar nos voluntariados que a plataforma apresentava.
Pra quem ainda não conhece o worldpackers, é uma plataforma de viagens em forma de voluntariado. Você praticamente viaja de graça, dando em troca de hospedagem e/ou alimentação, os seus “skills”, ou seja o que você é bom: desde ajudar a lavar louça, plantar, cuidar, marketing, fotografia, professora de yoga etc... Qualquer um pode ajudar de alguma maneira, né?
Pra ser um membro do WP você paga anualmente o valor de X (e sim, temos desconto: MARIAMONTORO) e você pode aplicar pra todo e qualquer lugar do mundo, desde hotel na Camboja que está precisando de alguém pra ajudar em fotografia, até fazer um programa de permacultura em alguma fazenda, ou até mesmo ir ajudar na África. O anfitrião tem que te aceitar e aí é só se planejar.
Vamos ao que interessa: A minha experiência.
Viajei por um mês pela Bahia, Itacaré foi minha última parada. Brinco que fiz 3 viagens em uma. Passei por Barra Grande com o projeto VAGAMUNDAS (tem post aqui), depois fui para um casamento em Trancoso, com a minha mãe, onde reencontrei grandes amigos e por fim, fui trabalhar em troca de hospedagem no hostel ROTA 027 em Itacaré.

Diferente de quando eu viajo para visitar, a impressão que eu estava era de estar morando lá há tempos. A rotina mudou, me conectei de outra maneira com aquele lugar tão especial. Fui pra ajudar no social media do hostel, então fiquei responsável pelo instagram e por criar conteúdos. Os horários eram bem flexíveis, mas é importante você conversar com a host e entender a rotina direito.
Tive muita sorte de estar rodeada de mulheres que moravam no hostel e tinham o maior amor por ele e pelos outros. A Vivi, dona de lá, falou quando cheguei: eu quero que você viva Itacaré e dai consiga tirar os conteúdos mais verdadeiros. E assim foi.
DIA 1 – 10 de Março de 2020
Depois de 12 horas e dois ônibus, cheguei em Itacaré. Sai cedo de Trancoso e peguei o primeiro ônibus as 8hrs da manhã de Porto Seguro pra Ilhéus, para conseguir chegar a tempo do último ônibus que saia as 15hrs de Ilhéus pra Itacaré. Estava tarde pra noite quando cheguei na rodoviária e fui até o Hostel 027, que fica na Pituba, a rua onde tudo acontece hahahaha.

Muito se fala da internet hoje em dia, mas se usa-la com consciência, o resultado pode ser lindo. Conheci a Luana nesse dia, ela já me seguia no Instagram e já estávamos nos falando desde a outra vez que fui embora da Bahia. Luana mora lá em Itacaré a mais de um ano e meio e foi um anjo que caiu do céu naquele momento. Tomamos um vinho na casa brasileira, ela me contou um pouco da vida, nos encontramos com a Carol, também conectadas pela internet e trocamos experiências.
Fui logo dormir.
DIA 2 – 11 de Março de 2020
Acordei cedo pra correr. A cidade estava tomada por israelitas. Parece que a maioria dos jovens que ingressam no exército tiram um ano sabático, e Itacaré é um dos pontos preferidos deles. Aproveitei muito as praias conhecidas como “urbanas”, uma vez que não estava com carro e meu budget restrito pra ficar pegando taxi, estava vivendo de caronas e a pé. Passei a tarde na praia do Resende.

No final da tarde/noite pratiquei Yoga com a Luana, na pousada ilha verde. Foi necessário, estava precisando de um tempo pra pensar em mim e entender tudo o que eu estava passando. Jantamos no Aqua, um restaurante com opções vegetarianas e preço em conta.
Voltando pro Hostel conheci um menino que havia feito uma aula de surf e adorado, liguei pro professor na hora e marquei.
Comecei a surfar no começo do ano e desde então entrei numa escolinha em Santos pra conseguir praticar sempre. Desço uma vez por semana. E estou apaixonada por esse mundo.
DIA 3 – 12 de Março de 2020
Acordei e corri. Os dias estavam chuvosos. Chovia, parava, abria, chovia de novo. Fui comer açaí orgânico em um dos únicos lugares de açaí orgânico que encontrei lá, chama Pico do Açai, no final da Pituba.
As 13hrs o Roni foi me buscar pra irmos pra Engenhoca surfar. Eu estava muito feliz, queria muito sentir as ondas da Bahia.

Foi um dia chuvoso, mas dentro do mar não tem tempo ruim. Ficamos a tarde toda na água, fechamos a praia, e conhecemos uma galera que morava na Chapada Diamantina.. aaaaah, os encontros da Bahia!
Voltei, tomei banho, encontrei a Luana e fomos jantar de novo no Aqua, um prato vegetariano com preço bom ( de R$16 a R$20). Passeamos na Pituba e encontrei uma loja muito linda, fica a dica pra quem for visitar Itacaré, chama Shanti. É uma loja com produtos naturais e conscientes.
DIA 4 – 13 de março de 2020
Não corri, mas fui com a Fe (mais uma voluntária no hostel) treinar na praia da Tiririca. Depois fizemos a trilha pra prainha, uma das praias mais lindas da região. Encontramos a Luana lá, passamos a tarde naquele paraíso com o sol. Na volta, paramos na praia do Resende ( uma das praias “urbanas”*).

Acabamos o dia comendo uma esfiha e kibe vegetariano DELICIOSO, que quem for a Itacaré precisa comer, fina na praça, entre a Pituba e a Passarela da Vila.
DIA 5 – 14 de Março de 2020
Acordei cedo e fui a padaria, do lado do hostel. Tomei um café e o Roni (@ronisurfing) me buscou pra irmos de novo pra Engenhoca surfar. Essa é a melhor praia pra quem está aprendendo e sempre tem onda. Sem contar a @familia_engenhoca que fica lá recebendo todos com muito amor e carinho.

No final da tarde/noite reunimos, eu a Fe, Luana e a Isis, que havia acabado de chegar e fomos pra Serra Grande, uns 30km de Itacaré, no sarau. Um monte de gente reunida, com som ao vivo, comidas vegetarianas deliciosas (e com carne também), cervejas artesanais, queijos, tapiocas, doces, bolos, crianças correndo de um lado pro outro, todos conversando.. Foi uma delícia. Sempre me falaram muito bem de Serra Grande, ainda quero conhecer melhor. O Sarau acontece uma vez por mês.
DIA 6 – 15 de Março de 2020
Acordei com preguiça. Íamos até Jeribucaçu (uma praia maravilhosa), mas até meio dia não havia parado de chover, até tentamos sair para pegar o ônibus, mas começou um temporal e ficamos ilhadas. Resolvemos ficar nas praias “urbanas”(tiririca e resende), chegando lá o tempo abriu "bizarramente" e foi um dia delicioso.
No final da tarde, a Lua me levou pro Espaço Dharma, que eu não conhecia.

Um espaço na ponta do Xaréu com vista pra um por-do-sol maravilhoso, comida saborosa com várias opções e uma raspadinha de caipirinha deliciosa. Foi especial.
Voltei pro hostel, tomei banho e saímos pra conhecer o OLA CAFÉ, que havia acabado de abrir. Lá é basicamente um café + coworking, com wifi bom para quem, como eu, é autônomo, trabalhar e passar umas horas. É um ambiente perfeito, vale a pena conhecer! (@olacafe_itacare).

DIA 7 – 16 de Março de 2020
Acordei nesse dia muito estranha. O surto do coronavírus estava tomando conta de São Paulo e mesmo eu meio offline, tudo o que lia e ouvia nos grupos e internet era sobre isso, minha mãe me ligava preocupada e eu não estava entendendo nada. Resolvi usar esse dia pra parar, desacelerar e entender o que estava acontecendo e trabalhar.
Encontrei a Lua e ela me levou pra almoçar no Baoba, um restaurante muito gostoso na esquina da orla, com um prato vegetariano, que você escolhe a proteína e os complementos, por R$18. E foi realmente uma delícia.
Fomos depois no Caramelo (café na Pituba), tomar um café e eu continuei trabalhando lá. A Lua foi encontrar o Pai e a família, eu fiquei mais um pouco e depois de uma hora fui pra Ponta do Xaréu, contemplar aquele por-do-sol.

Tive uma conexão muito forte, chorei, falei com amigos que eu amo e emanei muita coisa boa, foi intenso. Encontrei a Lua e fomos jantar no Árabe da Pituba, com várias opções vegetarianas, os pratos são grandes e da pra dividir, assim o preço sai em conta.
DIA 8 – 17 de Março de 2020
Acordei cedo com um diazão de sol, pratiquei yoga, tomei um café e esperei o Roni me buscar no hostel pra irmos surfar – Roni dá aulas de surf lá em Itacaré, @ronisurfing – E fomos!

O dia estava maravilhoso e era meu último dia em cima da prancha. Entramos na água as 8hrs e ficamos até as 12hrs, o Roni teve que ir pra Ilhéus e eu resolvi ficar lá.
A Engenhoca, onde tivemos as aulas, é a primeira praia da “trilha das 4 praias”lá em Itacaré, então resolvi continuar andar pela trilha sozinha.

Eu já havia feito ela inteira (até Itacarezinho, ida e volta) no começo do ano e tive momentos muito felizes com pessoas que eu amo, então me encorajei a ir sozinha e revivendo os momentos e vivendo novos. Cheguei na praia que eu mais amo: Camboinha. E, literalmente, só tinha eu. Parei, meditei, pensei em tudo, rezei e agradeci por estar lá.

Decidi que não ir até Itacarezinho, então voltei pro Hawaizinho, que é uma praia onde tem algumas barraquinhas, pedi uma cerveja, brindei comigo mesmo e de novo, agradeci.
Conversando com o pessoal lá descobri que o último ônibus era as 16hrs, já eram 15hrs e eu precisava fazer a trilha até o começo. Saí rápido, mas cheguei cedo la em cima, não eram nem 16hrs e arrumei carona com uma escolhinha de surf que estava voltando da Engenhoca.
Cheguei no centro, encontrei a Fe no hostel e fomos ver o por do sol na ponta do Xaréu, mais um dia de cores no céu.

Saimos e fomos jantar no meu restaurante preferido, o NATURALMENTE (Vegetariano). Pra quem for vegetariana, vale a pena experimentar! Não é dos mais caros, nem mais baratos, mas necessário conhecer, e como minha estadia estava chegando ao final, decidimos brindar ali. A Lua chegou e passeamos um pouco pelo centro (eu amo! Cada lojinha e cantinho delicioso).
DIA 9 – 18 de Março de 2020
Acordei com um bombardeio de informação vindo de São Paulo, meus pais preocupados, o governo da Bahia estava começando a se pronunciar e pela primeira vez, eu tive saudades de casa, vontade de abraçar minha mãe, fiquei com medo. Logo eu.
Combinamos de ir ( eu fe e lua ) para Jeribucaçu, já que a Lua ia estar de carro. Nos encontramos no Ola Café e lá começamos a receber mais notícias, as pessoas na rua começavam a falar.. até que o pai da Lua ligou e falou pra ela cancelar a ida pra praia e pra ir até a casa dela ficar lá com ele. Mal sabíamos que a quarentena estava começando.
Por um lado, fiquei muito triste, eu amo Jeribu e queria me desconectar aquele dia, já estava muito angustiada. Mas por outro lado foi bom. Foi um dia em que eu entendi o que estava acontecendo com o mundo, li, estudei, ouvi podcasts e ao invés de me desconectar, eu me conectei pra assimilar tudo. E foi ótimo.
Passei a tarde toda no OLA CAFÉ, com meu computador, livro e caderno.

Me encontrei com a Fe, fomos comprar algumas coisas no mercado e cozinhamos no hostel, com direito a cerveja e documentário da Marielle ( disponível no globoplay, MUITO FODA).
DIA 10 – 19 de Março 2020
Eis que chega meu último dia, de quase um mês na Bahia. E cheguei do jeito mais inusitado possível, com uma pandemia tomando conta do mundo, todos no ônibus com máscara, e medo. As pessoas no aeroporto aflitas, sem saber se conseguiriam voltar pra casa. O governo da Bahia especulando se iam fechar as estradas. Foi intenso. De um jeito que eu nunca imaginava encerrar minha temporada lá, mas com mais uma certeza: Vou ali e volto já.
Pousei em São Paulo.
*OBS:
PRAIAS URBANAS (dá pra ir a pé do centro )
Praia da Concha
Praia do Resende
Praia da Tiririca Praia da Ribeira
PRAIAS AFASTADAS (que tem que chegar de carro e fazer uma trilha )
Jeribucaçu
Prainha
Engenhoca
Hawaizinho
Camboinha
Itacarezinho
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